Ao ver o filme Parasita, de Bong Joon-Ho, que fez história esta semana vencendo o Oscar, fiquei muito impressionado com a arquitetura da casa onde se passa grande parte do filme. A beleza e elegância dos espaços é misturada com uma certa frieza de um lar com pouca vida, onde tudo é milimetricamente planejado.
As camadas que se são formadas pelos andares, metaforicamente quanto mais acima, maior o privilégio de quem usufrui do espaço, em contraponto com a casa semi-porão da família mais pobre. Como Bong mesmo afirma, o privilégio de cada classe pode ser representado com o quanto de luz do sol seu ambiente recebe.
Impressionado com este protagonismo da casa, fui pesquisar um pouco sobre ela, saber quem foi o arquiteto que a projetou. Para minha surpresa, não foi feita por um arquiteto. Na prática, nem é mesmo uma casa, e sim um grande set de filmagem construído para o filme, e projetada pelo designer de produção do filme, Lee-Ha Jun.
"Nós priorizamos a composição e ângulos de filmagem da câmera, foi uma aproximação diferente do que faria um arquiteto"
O diretor Bong chegou a desenhar um rascunho de como pensava na casa. Lee mostrou para um colega arquiteto, que afirmou não ser uma casa habitável. Foi então o grande desafio de Lee produzir uma casa habitável e pensada para atender as cenas que o diretor imaginava.
Segundo Bong: "Se um personagem está em determinada posição, o outro tem que poder espiá-lo. Se alguém chegava, o outro tinha que se esconder."
No filme, a casa teria sido projetada por um famoso arquiteto coreano para ele mesmo morar. Interessante notar que na sala não tem TV, mas o sofá aponta para a janela. Seria um espaço de apreciação do jardim, por isso a janela tem o formato de cinema: 2.35:1. Muitos dos outros espaços foram também modulados neste formato para caberem certinho na tela grande.
Esta incrível produção de arte é um dos pontos altos do filme, como uma plataforma onde a dinâmica cômica e de suspense entre os personagens ocorre. O filme é um verdadeiro deleite para arquitetos.